"Sim o coração dele batia como um louco e sim eu disse sim eu quero Sims"

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Entrevista com Lucienne Guedes



De dentro para fora e de fora para dentro


Thiago Mariano

Do Diário do Grande ABC


Um encontro do interior e do exterior, da cidade e do indivíduo, tudo mesclado numa explosão poética, entra em cena em 'Ulisses - Dançando para Adiar', que a Cia Estrela D'Alva apresenta no Sesc Santo André. A exibição integra o projeto ABCena, que lança olhar para a arte de grupos e artistas da região.

A adaptação do clássico 'Ulysses', de James Joyce, conta a história de um dia da vida do irlandês Leopold Bloom. A dramaturgia assinada por Lucienne Guedes e Márcio Castro é centrada na relação entre o protagonista e sua mulher Molly.

Bloom, em um feriado, sai de casa sem destino certo. O que ele espera é adiar o reencontro com a parceira. "Quando ele sai à rua, carrega consigo a mulher que deixou e a possibilidade de ela ter ficado com o amante e a de ser apenas mais um homem na vida dela. É como se ele se desse o direito de perambular antes de entrar em contato com a iminência de encontrar a mulher com o amante. É aí que ele passa por fluxo de pensamento, sensações, perguntas, vislumbres e encontros furtivos com personagens da cidade", conta Lucienne.

Transitando por Dublin, entre digressões e reflexões, ele se deixa contaminar pela vida que pulsa na cidade. Por seus personagens, por sua arquitetura e por seus elementos naturais, sem jamais deixar de esquecer Molly. "Por todas as estações em que ele passa, que são semelhantes às da 'Odisséia' de Homero, a mulher se faz presente. Isso a gente faz acontecer na montagem com a presença espectral, fantasmagórica de Molly."

Itinerante, a montagem convida o público a circular e a entrar na casa de Bloom ao lado dele. O objetivo e o subjetivo da cidade em contato com o ser humano criam a poética do espetáculo. "Ao confrontar o que está fora de si ele altera seu estado. O que acontece na cidade o contamina e isso se transforma em uma poética muito potente", acredita Lucienne.



ADAPTAÇÃO

Lucienne, que deu aulas e coordenou a Escola Livre de Teatro de Santo André, conta que adaptação do clássico - que é de difícil leitura e alta complexidade - instigou-a em determinados pontos: a concentração do tempo na narrativa e o uso da palavra, que se transforma durante as centenas de páginas em vários tipos de poética e narrativa.

Outro fator foi a comparação à 'Odisséia', mas é um ponto que ficou relegado conforme foi andando o projeto. "Percebemos que era muito menos interessante o confronto do que o ato de se deparar com a obra de Joyce toda. Era preciso encarar 'Ulysses' e olhar para ele como uma coisa inteira."

Para a dramaturga, as várias camadas com que a obra pode ser lida ao ser transposta para o teatro representaram mais dificuldade do que o tamanho do livro. "Temos a literatura como uma única camada de contato com o leitor. Quando vai para o teatro, são várias outras: o ator com seu tipo físico, a questão vocal, o cenário, a luz, a trilha sonora, todas questões que são apenas sugeridas no texto... Isso faz com que as nossa responsabilidade aumente", diz ela.

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