EU COMI
Por Heloísa Alvarez
E deveria começar assim toda crítica, ou forma de simples
agradecimento, feito por todos que foram alimentados com o espetáculo de
sábado.
Sou completamente suspeita para falar. Numa fileira de
feitores sendo investigados pelo crime cometido, sou a primeira acusada por
morrer de amores por esse grupo. Não poderia ser diferente, estou amando.
Se não for muito abusivo, antes mesmo de falar do
espetáculo, gostaria de falar da minha particularidade no momento.
Chegando à casa Guilherme, senti o estomago ansioso. Era um
dia de muita expectativa. Senti medo, por saber da tamanha responsabilidade que
coloquei no ombro de amigos. Principalmente de três amigos (daqueles com letras
grandes, de comercial de cerveja. Amigos de longa data, longa jornada, de
admiração eterna). Apenas desejei gostar, gostar muito.
Sentei e esperei. Meu coração apressado bateu devagar em
seguida.
Ao final, depois de ter chorado, [rido, corrido, caminhado,
empurrado algumas senhoras de idade, visto um rato morto no cemitério, uma
banda de jazz em um sebo, tentado observar o inobservável, dançado com Bloom,
SIM, dancei] cheguei a ponto de deixar de ser uma observadora pesquisando para
uma grande crítica posterior. Percebi que não existiam mais expectativas. Eu
disse SIM!
Eu corri tal como os personagens tentando identificar quem
era ele eu sou quem e eu ele era eu Eu percebi que eu ele entendi entendeu que
de tão perdido o sentimento misturado na ação ele eu dançamos Dancei Corri meu
Bloom por meio aos carros buzinando ao som de pessoas tão alienadas em seu
pequeno veículo de quatro metros quadros em seus territórios intocáveis longe
da turbulência que passou por eles Passei. Fluxo de consciência. Dançando para
adiar.
- que horas é o enterro?
- às onze, creio. Não vi o jornal.
Em uma tarde, Dublin, meio a Av. Dr. Arnaldo, passei, vi
passar, passamos. Perdidos em um único dia, junto aos muitos pensamentos que
não conectam e nem pretendem. Pelos episódios dessa Odisseia, associado pela
cor, arte, parte do corpo humano, local, horário, tudo que foi completamente
pensado e estruturado.
Odisseu - Ulisses – apenas Poldy, é o guri que sente e que
ri com o invisível, em uma caminhada peripatética, dançou.
Quanto ao espetáculo nada tenho a dizer, não sei do que se
trata, não pude ver. Estive perdida em uma tarde, uma tarde em meus
pensamentos.
"Este é o livro ao qual todos somos devedores, e do
qual nenhum de nós pode escapar "
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