James Joyce em SP
Em comemoração ao Bloomsday, a capital paulista organiza eventos em homenagem ao escritor irlandês
Mariana Marinho
Sobre o chão repousa Molly Boom (Carina Prestupa) coberta por um lençol branco. Sentado numa cadeira, Leopold Bloom (Paulo Gircys) exibe suas roupas de baixo: uma regata branca, um calção de mesma cor e meias verdes. Numa pequena mesa se encontram duas xícaras, uma cafeteira e um coador de café. Pendurada na cadeira estão as vestes verdes de Bloom. Numa das pontas da lona parda que cobre o chão pode-se ver uma garrafa e um copo. Em outra, dois pequenos pratinhos de metal. Perto de Molly há um vidrinho com um conteúdo pastoso. Mais adiante, uma flor.
Dentro de alguns instantes o público, que começa a entrar no espaço, será convidado a fazer e ser parte de uma viagem multissensorial a partir da obra
Ulysses de James Joyce (1882-1941). Trata-se do espetáculo itinerante
Ulysses Molly Bloom – Dançando para adiar, encenado pela Cia. Estrela D’alva de Teatro no Centro Cultural de São Paulo (CCSP).
Durante a peça, a plateia é levada a abandonar a sala e a ocupar a rua e os espaços do CCSP. Na montagem, Leopold Bloom sai de casa para cumprir sua agenda de trabalho, porém, acaba passando o dia vagando pela cidade, adiando seu retorno ao lar enquanto é assombrado e seduzido pela figura de sua mulher, Molly Bloom.
Para Kil Abreu, curador de teatro, a saída da sala fechada é uma necessidade da própria obra. “Junto com o deslocamento espacial de Leopold Bloom há também osdeslocamentos da subjetividade. O contato do personagem com a cidade é essencial no romance e no espetáculo porque coloca de pé uma dupla tarefa que é o enfrentamento do sujeito com ele mesmo e com a urbe, a ponto de uma coisa quase se confundir com a outra”.
Longe de ser apenas uma homenagem ao Ulysses de Joyce,
Ulysses Molly Bloom – Dançando para adiar estabelece um diálogo com a obra. Captando o espírito do romance, os dois atores mergulham numa série de experimentações por meio de uma linguagem viva e rica e da utilização de poucos recursos cênicos.
Bloomsday
A encenação de
Ulysses Molly Bloom – Dançando para adiar está inserida na
Ocupação James Joyce. Desde o dia 7 de junho, o CCSP cedia uma série de eventos ligados ao escritor. Além do espetáculo da Cia Estrela D’alva de Teatro, a programação é composta por uma oficina sobre experimentação baseada na obra
Finnegans Wake, uma palestra ministrada pela professora da USP, Munira Hamud Mutran, sobre
Ulysses e a apresentação da peça
Odisséia, adaptada por Samir Yazbek e Marco Antônio Rodrigues.
No dia 16 de junho a apresentação de
Ulysses Molly Bloom – Dançando para adiar será gratuita em comemoração ao Bloomsday, evento em homenagem a James Joyce. É neste mesmo dia, no ano de 1904, que, no romance, Leopold Bloom perambula por Dublin.
O Bloomsday foi criado em São Paulo no ano de 1988 por Haroldo de Campos (1929-2003). A comemoração paulistana inspirou outras cidades brasileiras como Florianópolis (SC), Santa Maria (RS), Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS). Na Irlanda, o Bloomsday é tido como feriado.
“Em um mundo de efemérides medíocres, o Bloomsday é uma data em que se comemora não um fato real, mas a existência de um personagem de ficção. O que significa entre outras coisas uma valorização importante da coisa literária e, por extensão, da invenção, da criação”, argumenta Kil Abreu.
Além do CCSP, a casa Guilherme de Almeida, a Casa das Rosas e o Finnegan’s Pub também organizam uma programação especial para celebrar a 26ª edição paulistana do evento. Confira a seleção CULT da programação:
Programação
11 de junho, às 19h
Abrindo as celebrações do Bloomsday 2013, a professora Maria Teresa Quirino apresentará na Casa Guilherme de Almeida o tradutor Antônio Houaiss, focalizando sua pioneira tradução de Ulysses.
13 de junho, às 19h
A peça Peer Gynt, do norueguês Henrik Ibsen (cuja produção dramática foi objeto de ensaio do jovem James Joyce), e o romance Ulysses, de Joyce podem ser consideradas paródias livres da épica grega Odisseia. As relações entre as duas obras serão abordadas na palestra “Ulysses: um Peer Gynt Irlandês?” ministrada por Pérola Wajnsztejn, Marcelo Tápia e Donny Correia na Casa Guilherme de Almeida
14 de junho, às 19h
Na Casa Guilherme de Almeida serão lançados os dois livros infantis recém lançados pela Editora Iluminuras, cada um contendo um conto de James Joyce, em tradução de Dirce Waltrick do Amarante. São eles O gato e o diabo e Os gatos de Copenhague
15 de junho, às 14h
A Casa das Rosas abre suas portas para o simpósio “Signos”: a Coleção Haroldiana & a Poesia de antes e de agora. O evento trata da importância da coleção – cujo primeiro título foi Panaroma do Finnegans Wake, em 1971 – dirigida por Haroldo de Campos até a data de sua morte.
16 de junho, às 16h
No Finnegan’s Pub ocorre o evento Mulheres de Joyce, que consiste na leitura de fragmentos das obras Dublinenses, Um retrato do artista quando jovem, Ulysses e Finnegans Wake, de Joyce, em diversas traduções e em vários idiomas, com apresentação e comentários de Maria Teresa Quirino. Ao longo das leituras, serão apresentadas as canções: “Down by the Salley Gardens”, “My Pretty Jane” e “Marble Halls”, pelo grupo Irish Dreams (Sílvia Mendonça, Daniel Tápia, Bruno Baldim e M. Tápia); “Flower of the mountain” e “Danny Boy”, por Yun Jung Im (com a participação de Marcelo Freitas e Marcelo Watanabe)
16 de junho, às 21h30
A Casa Guilherme de Almeida participará de uma leitura internacional, online, promovida pelo James Joyce Centre, de Dublin: A Global Bloomsday Gathering: a Reading of Ulysses Around the World. Trata-se de um evento compartilhado por mais de 20 cidades do mundo, como Londres, Auckland, Zurich, Chicago, Shangai e Beijing, entre outras. No Brasil, participarão São Paulo e Santa Maria (RS).
O link para assistir à leitura integral, que durará cerca de 24 horas é: http://globalbloomsday.com |
Ocupação James JoyceOnde: Centro Cultural São Paulo – R. Vergueiro, 1000 São Paulo (SP)Quando: 7/06 a 14/06Info.: 11 3397-4002 ou www.centrocultural.sp.gov.br
Bloomsday 2013Onde: Casa Guilherme de Almeida – R. Macapá, 187 – São Paulo (SP), Casa das Rosas – Av. paulista, 37 – São Paulo (SP) e Finnegan’s Pub – R. Cristiano Viana, 358 – São Paulo (SP)Info.: www.casaguilhermedealmeida.org.br, www.casadasrosas-sp.blogspot.com e (11) 3062-3232